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"A inadiável revisão do que foi a arte no século 20"

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Affonso Romano de Sant' Anna

Poeta, crítico e professor de literatura e jornalista

Do livro “Desconstruir Duchamp”

 

Sobretudo nas chamadas "artes plásticas", nos últimos anos tornou-se evidente um fosso entre o público e as obras apresentadas como artísticas. A rigor, a crise é ainda mais grave, pois muitos artistas que se consideram igualmente modernos, e o são, não reconhecem nas obras de muitos de seus contemporâneos qualquer validade estética.          

O enigma vazio - 19 de janeiro de 2002

 

...sobre o livro de Alberto Manguel: Lendo imagens(Cia.das letras,2001)...

 

...Manguel faz uma série de conjecturas que nos obrigam a rever, uma vez mais os equívocos em que se meteram as “artes plásticas“ no século passado. (Insisto em dizer “século passado” , para que alguns vanguardistas retardatários se dêem conta que já estão na retaguarda)...

Lá pelas tantas, sobre o quadro de Joan Mitchell chamado Dois pianos, Manguel honestamente diz: “Sob a influência do título da Joan Mitchell, creio que consigo reconhecer duas vagas formas de piano nos trechos de cor lilás da esquerda e da direita, um pequeno e outro muito maior - mas esse reconhecimento não é muito convincente...

 

...Como julgar uma obra “cuja extensão completa nos escapa?”

É aqui que a “arte contemporânea “ se confunde com misticismo e religião: um diálogo com o ausente, mediado pelo “artista”(crítico e curadores) como sacerdote de um credo. na religião, há que ter fé. Em relação às obras contemporâneas, há que “acreditar” nas intenções do artista. Quanto mais vazia a obra, mais cheia de significados a preencher... Os produtos apresentados por aí como arte escaparam ao domínio do estético e podem ser melhor explicados por outras disciplinas...

...Manguel acrescenta: “ a ausência de linguagem se torna linguagem aos olhos do espectador.” Eu diria que esse tipo de “linguagem” se torna linguagem só para os incautos e os espertos/expertos.

...aproximando arte de religião, Manguel pondera: “Quando nos confrontamos com uma obra de arte, essa talvez seja a nossa única reação possível: o equivalente a uma prece de gratidão por nos permitir, com nossos sentidos limitados, um número infinito de leituras.” Faltaria, no entanto, indagar se, em certos casos, estamos mesmo diante de uma “obra de arte”.

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